Senhores passageiros, uma coisa é certa: as viagens aéreas não serão como antes da pandemia do Covid-19. Neste post eu faço um apanhado com os principais mudanças nas viagens aéreas depois do coronavírus.
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Eu sei que você está ansioso para voltar a viajar, eu que trabalho com viagens desde o começo do Vou na Janela também estou me sentindo como um passarinho na gaiola. Falando nisso, eu já escrevi um post bem detalhado e aprofundado aqui sobre esse assunto. Quando será seguro viajar? Quando planejar uma viagem? Recomendo a leitura.
Mas voltando ao tema central desse post, quando o que está sendo chamado de “o novo normal” chegar, devemos estar preparados para uma série de mudanças que terão impacto direto nas viagens aéreas. E todas as mudanças serão pautadas pelo distanciamento social.
Continuaremos viajando, não da forma com que estávamos acostumados até agora e com algumas mudanças significativas e novas regras de comportamento em viagens. A aviação é vital para o mundo, não existe a menor possibilidade da aviação parar. Mas grandes mudanças acontecerão pelo menos até que tenhamos uma vacina e que a população global esteja imunizada.
Viagens aéreas depois do coronavírus
Nos aeroportos
É bem provável que somente os passageiros poderão acessar os aeroportos para evitar aglomerações. Sabe aquela multidão de pessoas esperando no desembarque? Certamente aquilo será proibido.
Curiosamente, existem alguns países em que os aeroportos que só permitem a entrada dos passageiros, como no Marrocos ou em alguns lugares da Ásia. Porém, são lugares que já sofreram atentados e essas medidas são por razões de segurança.
Certamente o check-in online será ampliado, assim como o despacho de bagagem automático, sem o auxílio do pessoal dos balcões de check-in. Isso já acontece em diversos aeroportos do mundo, como Amsterdam, Singapura e Vancouver.
Alguns aeroportos estão medindo a temperatura dos passageiros, algo que na Ásia já é comum há tempos, já passei por isso no Japão e na Coréia do Sul e recentemente em Doha no Qatar. Mas medir a temperatura é pouco eficaz, pois se o infectado estiver na fase de incubação da doença, ele não apresentará febre.
Outros assuntos que estão sendo discutidos é como limitar a circulação dos passageiros por áreas como salas vip, lojas do freeshop e restaurantes. A maioria das salas vip nos aeroportos foram fechadas e muitas podem continuar fechadas ou com acesso muito limitado. Certamente aglomerações dentro das salas vip e das lojas do freeshop não serão permitidas. Há quem aposte que esse pode ser o fim das lojas de freeshop.
Alguns países discutem a implementação de uma espécie de certificado de imunidade, como o Certificado Internacional de Febre Amarela que já é exigido em muitos países. Mas o assunto ainda está bem nebuloso pois, sem a vacina, ainda não há como provar que uma pessoa está imune, mesmo que ela já tenha contraído vírus.
O distanciamento social também deverá ser respeitado durante o embarque, ainda não está muito claro como deverá ser feito. Alguns aeroportos e companhias aéreas pensam em substituir o embarque realizado em grupos, por fileiras, uma a uma. Do fundo para frente, primeiro passageiros nos assentos das janelas, seguidos dos passageiros do corredor. Tudo para reduzir a circulação dentro das aeronaves.
E isso também vai impactar no nosso tempo nos aeroportos. Se hoje, para voos internacionais, o recomendado é chegar com 3 horas de antecedência, possivelmente esse tempo será ampliado pois os procedimentos de embarque serão mais lentos.
Dentro dos aviões
O grande ponto nevrálgico das mudanças nas viagens aéreas depois da pandemia será dentro dos aviões. Manter o distanciamento social dentro as aeronaves será o grande desafio das companhias aéreas.
Empresas aéreas de todo o mundo, assim como fabricantes de aeronaves, designers e projetistas de interiores tem pensado em alternativas para aplicar as regras de distanciamento social dentro dos aviões.
E já apareceu cada coisa! Uma empresa sugeriu a inversão dos assentos, intercalando poltronas do corredor e da janela viradas para frente com a poltrona do meio virada para trás. Outras empresas vem propondo uma espécie de divisória de acrílico entre as poltronas, uma espécie de aquário.
Todas as mudanças propostas precisam passar por uma série de testes e certificações. No mundo da aviação, até um novo produto de limpeza de aeronaves precisa ser certificado para uso nos aviões. Muitas dessas ideias são simplesmente impraticáveis pois seriam ineficientes nos testes de evacuação rápida de aeronaves em emergência.
Além disso, preciso salientar que mudanças drásticas como essas geram grandes custos. Imagine uma empresa aérea com mais de 400 aeronaves em sua frota, quanto custaria para implementar mudanças assim em um mercado em crise?
Tudo que o cenário atual indica é que o distanciamento social dentro das aeronaves será feito mantendo poltronas vazias. Em fileiras de 3 poltronas, a poltrona do meia será bloqueada para a venda. Essa é a maneira mais rápida das empresas conseguirem manter o distanciamento social mínimo e colocar os aviões para voar.
Mas valeria a pena voar com menor rentabilidade ou gastar com a troca dos interiores ou a instalação de divisórias caso esses dispositivos sejam certificados pelas autoridades aeronáuticas? Certamente essas contas já estão sendo feitas, mas o que tem acontecido até agora, nas poucas rotas que estão voando, é a poltrona do meio vazia.
Todos os passageiros deverão voar usando máscaras, inclusive, muitas empresas como a Air France e KLM, assim como a Latam e a Gol aqui no Brasil já avisaram que o uso de máscaras será obrigatório durante todo o voo.
O serviço de bordo será simplificado, as tradicionais bandejas podem ser substituídas por caixas de papel que já virão lacradas do serviço de catering. Assim, o contato com a tripulação será reduzido.
Falando em tripulação, muitas empresas vem mostrando os novos uniformes das tripulações para os voos. As roupas visam a proteção dos tripulantes e dos passageiros. Empresas como a Emirates e a AirAsia já divulgaram os novos uniformes.
É provável que as revistas de bordo deixem de circular, assim como toda a literatura de bordo que hoje encontramos no bolsão das poltronas. Resta saber como fica o cartão de segurança, que é item obrigatório nas poltronas. Hoje a Ryanair mantém essas informações coladas nas costas das poltronas e isso pode ser uma solução. Certamente, serão muitas mudanças nas viagens aéreas, todos os cenários estão sendo checados e discutidos.
Voar vai ficar mais caro
A indústria da aviação foi a primeira a ser impactada com a pandemia do Covid-19, e segue sendo a mais atingida até agora. Companhias aéreas estão encolhendo e fechando as suas portas. Na esteira da quebradeira temos a Air Italy, Germanwings, Atlas Global e FlyBe que já encerraram as suas atividades. A Norwegian Air está a beira do colapso, cancelou toda a sua malha internacional e deve resumir suas atividades a curtos voos no território escandinavo até o ano que vem, se sobreviver.
Uma empresa familiar dos brasileiros, a South African Airways deve fechar as portas em maio. A Virgin Atlantic disse que vai precisar de ajuda estatal para sobreviver. Seu fundador, Richard Branson já tentou vender até a sua ilha particular para salvar a empresa, que aposentou aeronaves, demitiu funcionários e fechou a sua base no aeroporto de Gatwick em Londres. E a sua conterrânea, a tradicional British Airways deve demitir até 12.000 funcionários.
Com isso, teremos menos voos e escassez de concorrência. E você pode estar querendo saber como isso vai impactar na sua vida? Simples, vai ficar mais caro viajar. Some a isso a desvalorização galopante sofrida pelo Real e não custa lembrar que parte dos gastos das companhias aéreas, como manutenção e o leasing das aeronaves são em dólar, mesmo as empresas domésticas.
Mudanças nas viagens aéreas e na aviação não é algo novo
Depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, o mercado de aviação passou por enormes mudanças.
Mas a principal dela foi em torno dos controles de segurança, que antes não eram tão rígidos como hoje em dia. Você já deve ter visto em filmes antigos onde as pessoas chegavam até os portões de embarque sem passar por nenhum controle de segurança, não é mesmo? Em muitos lugares do mundo isso era normal antes do 11 de setembro, por mais inacreditável que possa parecer.
O controle de objetos cortantes e o transporte de líquidos, que hoje fazem parte da rotina dos passageiros também não existiam antes dos atentados do 11 de setembro.
Assim como o mercado de aviação mudou depois dos atentados, a aviação certamente mudará depois da pandemia do Covid-19. Resta saber, se isso será para sempre ou até quando.
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