Cemitério de trens de Uyuni

Há uns 15 anos, nos primórdios do Instagram, eu vi uma imagem que chamou demais a minha atenção. Uma fileira sem fim de antigos trens estacionados no meio do deserto. Aquele cenário apocalíptico de locomotivas e vagões cobertos de ferrugem em contraste com o céu azul e as montanhas ao fundo me pegou. Era o cemitério de trens de Uyuni na Bolívia e quinze anos depois, eu fui conhecer esse lugar.

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Uyuni é uma cidadezinha de cerca de 15 mil habitantes localizada no meio do deserto da Bolívia. A cidade é conhecida por ser uma das portas para conhecer o Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo e também a maior atração turística da Bolívia ao lado da porção boliviana do Lago Titicaca.

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O que fazer em Uyuni

Uma cidade que brotou no meio do deserto

E a história do cemitério de trens de Uyuni está totalmente entrelaçada à história da cidade. Uyuni surgiu como um importante centro ferroviário em 1890 durante o período de maior exploração de minério na Bolívia. A cidade literalmente brotou no meio do deserto para servir de alojamento para os trabalhadores das minas de salitre e também para os funcionários da ferrovia, que até hoje rasga a cidade ao meio.

Naquela época, a Bolívia vivia um imenso apogeu econômico. Inclusive, a cidade de Potosí, não muito distante de Uyuni, já foi a maior mina de prata do mundo!

Cemitério de trens de Uyuni
Centenas de locomotivas

Voltando um pouco no tempo, durante os séculos XVI e XVII, as minas de Potosí foram responsáveis por produzir uma grande parte da prata que circulava no mundo. A prata extraída de Potosí foi fundamental para o financiamento do Império Espanhol, sustentando suas guerras e as expansões na Europa e nas Américas. E a cidade de Potosí chegou a ter uma população de cerca de 200 mil habitantes, uma das maiores cidades do mundo naquela época. 

Embora as riquezas minerais da Bolívia parecia não ter fim, essa efervescência da exploração de minérios um dia acabou! Em meados dos anos 1940 a fonte foi secando e é neste contexto que surge o cemitério de trens de Uyuni.

Cemitério de trens de Uyuni
Locomotivas centenárias no meio do deserto

O cemitério de trens de Uyuni

À medida que a exploração mineral na Bolívia foi cessando, as locomotivas e vagões que outrora rasgavam o deserto boliviano em direção ao porto de Antofagasta no Chile foram sendo estacionados em um enorme pátio de manobras na entrada da cidade.

O antigo pátio está localizado no entroncamento da linha que conecta Uyuni ao Chile e com a outra linha que segue para o sul da Bolívia na fronteira com a Argentina. Todavia estas linhas ainda seguem ativas e os trens da Ferrovia Andina ainda passam por ali, mas transportando uma fração muito pequena do que já foi a exploração mineral na Bolívia.

Cenário apocalíptico

E à medida que a demanda foi caindo, os trens eram estacionados neste pátio e dali nunca mais saíram. 

São centenas de trens, incluindo imponentes locomotivas, a maioria importadas da Grã-Bretanha na virada do ano de 1900 e vagões de carga e de passageiros. Na época, engenheiros do Reino Unido foram convidados para ajudar a construir a ferrovia na Bolívia em vários cantos do mundo, como no Brasil, já que eles eram os maiores especialistas da época.

Cemitério de trens de Uyuni
Centenas de vagões abandonados

Hoje, mais de 80 anos depois do colapso da indústria de mineração na Bolívia, as locomotivas parecem lutar contra os ventos que carregam o sal do deserto e aceleram ainda mais o processo de degradação desses gigantes de ferro.

O ligar atrai muitos visitantes todos os dias
Cemitério de trens de Uyuni
Um dos maiores cemitérios ferroviários do mundo

Como visitar o cemitério de trens de Uyuni

Para visitar o cemitério de trens não paga nada, é só chegar. A maioria dos passeios pelo Salar incluem uma paradinha no local. Contudo, se você tiver um dia a mais em Uyuni, recomendo visitar o cemitério por conta própria, com mais calma e sem o tempo corrido dos guias, preferencialmente depois do meio-dia. Foi exatamente o que eu fiz.

O cemitério de trens de Uyuni fica a 2.5km do centro da cidade e eu fui andando seguindo os trilhos do trem. Mas você pode pegar um táxi, que cobra em média 10 Bob a corrida, entretanto, não tem Uber na cidade.

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