O Aeroporto de Lisboa é a principal porta de entrada da Europa para quem vem do Brasil. O mais importante aeroporto de Portugal, é o hub da TAP, e além dela operam aqui 58 companhias aéreas de vários cantos do mundo. Bem localizado e de fácil acesso, tinha de tudo para ser um bom aeroporto.
Porém, o Aeroporto de Lisboa ultrapassou os seus limites operacionais e vive uma situação crítica, onde o menor incidente, pode facilmente escalar para uma avalanche gigantesca de problemas.
Ele ficou conhecido pelos atrasos constantes, voos cancelados, longas filas e o péssimo atendimento do pessoal de solo. Mas o que aconteceu para que Lisboa se tornasse o segundo pior aeroporto da Europa. Vem comigo entender as razões.
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Vamos entender o aeroporto de Lisboa
O Aeroporto de Lisboa foi aberto ao tráfego em 15 de outubro de 1942 e três anos depois, em 1945 surgia a Transportes Aéreos Portugueses, a TAP.
A partir de 1962, o aeroporto da Portela passa a contar com duas pistas. Porém, em 2019, a pista menor, com 2.400 metros, foi desativada para ser usada como taxiway ou estacionamento de aeronaves. Um reflexo claro da saturação do aeroporto, que já não tinha mais espaço para a movimentação dos aviões em solo.
Hoje Lisboa possui apenas uma pista. Mas para um aeroporto com este movimento, contar com apenas uma pista é arriscado, pois limita muito as suas operações e projeções de crescimento, fazendo com que todas as operações em Lisboa sejam críticas.
Se houver um problema em alguma aeronave, como uma pane ou pneu furado, por exemplo, pode levar à interdição da pista e fechamento do aeroporto por horas.
As longas filas de aeronaves esperando autorização para decolar se tornaram comuns, assim como atrasos na chegada por conta do intenso tráfego aéreo. É normal as aeronaves atrasarem a chegada ou ficar orbitando até obter uma posição na fila para o pouso.
Com o passar das décadas, o aeroporto de Lisboa foi rodeado por construções e bairros residenciais, ceifando assim qualquer possibilidade de expansão, como a construção de novas pistas e terminais. É um pouco do que aconteceu com o Aeroporto de Congonhas em São Paulo, quando a cidade engoliu o aeroporto. Entretanto, a diferença é que Congonhas hoje é um aeroporto doméstico e o Humberto Delgado, é um hub internacional, e base da TAP.
Atualmente existem dois terminais, o Terminal 1, que é o principal terminal e se divide entre voos domésticos, voos para os países que formam o espaço Schengen e voos internacionais de longa distância.
Além dele, o pequeno Terminal 2, usado apenas para embarques das empresas aéreas do segmento low cost, como a Ryanair e a Easyjet. Ambos são conectados por um serviço de ônibus, em razão da distância entre eles.
Bem localizado, o aeroporto fica dentro da cidade e é atendido por uma linha do metrô. Em termos de acesso, é um excelente aeroporto.
De onde vem o caos?
O aeroporto internacional de Lisboa foi o décimo quarto aeroporto mais movimentado da Europa em 2022 entre os 100 aeroportos listados no ranking da agência europeia de aviação civil.
Em dias mais tranquilos, o Humberto Delgado realiza 35 operações de pousos e decolagens por hora. Porém, em dias de maior momento, ele pode chegar a 42 operações a cada hora, podendo superar os 700 pousos e decolagens por dia, considerando os movimentos entre às 4h da manhã e a meia noite. Durante a madrugada fica fechado para pousos e decolagens.
Lisboa movimentou em 2022 mais de 28 milhões de passageiros, ficando na frente de grandes aeroportos como Viena, Zurique, Copenhague e Berlim. Aeroportos que possuem estruturas e capacidades superiores à Lisboa. Entre janeiro e agosto deste ano, pelo aeroporto da capital portuguesa já passaram quase 23 milhões de pessoas e as projeções indicam que Lisboa deve fechar o ano de 2023 com 35 milhões de passageiros.
Uma taxa de crescimento de 31% em relação aos últimos 10 anos e 8,7% comparado com 2019.
E o que isso significa?
Saturação! Um aeroporto que recebe um volume de passageiros muito acima da sua capacidade máxima, que é de 25 milhões de passageiros por ano, considerando os dois terminais.
Nos últimos anos, o aeroporto de Lisboa ficou pequeno para o volume de operações. De um lado, tem mais empresas aéreas voando para Lisboa, além do crescimento da TAP após a renovação da frota. Do outro lado, temos as limitações estruturais, um terminal pequeno e que recebe em períodos movimentados até 700 operações de pousos e decolagens por dia.
Filas enormes, a longa espera para fazer o check in e despachar as bagagens. Filas ainda mais longas nos controles de segurança e na imigração. Para os que desembarcaram em Lisboa, o tempo de espera nos horários de pico, entre às 4h e às 11h da manhã, é de até 2 horas para conseguir fazer a imigração.
Mas existe também o problema da falta de mão de obra. Com a pandemia, as empresas aéreas e as administradoras dos aeroportos mundo afora demitiram um grande número de profissionais, os quais muitos ainda não foram recontratados. O que requer investimentos em treinamento e requalificação.
E com o rápido reaquecimento do mercado de viagens antes mesmo do fim da pandemia, os aeroportos ficaram lotados. A primavera e o verão de 2022 foram caóticos nos aeroportos europeus, o que expôs ainda mais os problemas do frágil aeroporto lisboeta.
Centenas de voos da TAP cancelados semanalmente por falta de funcionários e uma greve do pessoal de terra por melhores condições de trabalho transformaram o aeroporto de Lisboa em um calvário com milhares de passageiros desamparados.
Centenas de passageiros ficaram acampados no aeroporto à espera de uma solução. O desamparo e o descaso da TAP com os passageiros ganhou destaque na imprensa em ambos os lados do Oceano Atlântico.
Passar pelo aeroporto de Lisboa é uma caixinha de surpresas. Os atrasos sistemáticos se tornaram comuns. Tenha certeza de que o seu voo partindo de Lisboa pode atrasar. Outro problema são os cancelamentos em cima da hora, passageiros retirados do voo prestes a decolar, malas extraviadas, confusão para conseguir reembolso ou acomodação, desinformação e muita, mas muita impaciência dos funcionários portugueses.
Com isso, o aeroporto de Lisboa recebeu o título de segundo pior aeroporto da Europa de acordo com a consultoria AirHelp, com 51.04% dos seus voos cancelados ou atrasados em 2022.
Quais os planos para o Aeroporto de Lisboa?
Em 2015 o Governo Português decidiu que o novo aeroporto de Lisboa seria construído no Montijo, onde já existe uma base aérea. O projeto foi defendido pelos governos posteriores. Porém, de acordo com os dados do relatório da Comissão Técnica Independente, nomeada pelo Governo Português, aponta que o Montijo não atende a 5 dos critérios obrigatórios para receber o novo aeroporto.
Entre os problemas principais, dois deles são considerados críticos:
- O local escolhido não possui área de expansão mínima, impossibilitando o crescimento do aeroporto no futuro. Um problema já vivido pelo atual aeroporto.
- Falta de ligação ferroviária com a cidade. Algo que não existe e também não está previsto no projeto. O novo aeroporto ficaria distante cerca de 40km do centro de Lisboa.
Além disso, por ser uma área residencial, existe a questão da poluição sonora que afetaria as comunidades locais. O novo aeroporto também afetaria locais de fauna e corredores migratórios de aves.
Outra solução apontada pela comissão é construir o novo aeroporto em Alcochete, onde hoje existe o Campo de Tiro de Alcochete. Assim como Santarém, que é ainda mais distante de Lisboa, cerca de 90 km até o centro da cidade.
Uma outra solução proposta é manter o atual aeroporto, combinando as operações com o novo aeroporto. Porém, a TAP, a empresa dominante no Aeroporto Humberto Delgado já apontou que não tem interesse em deixar o atual aeroporto. E com ela, obrigatoriamente precisam ficar as empresas parceiras em razão de sua conectividade, entre elas, as empresas StarAlliance, com a Lufthansa, Austrian, Brussels, Swiss, SAS, Turkish e a United Airlines.
O fato é que, seja qual for a decisão, este novo aeroporto só estaria operacional em 7 anos de acordo com o mesmo relatório, assim, o Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa continuaria funcionando pelo menos até 2030.
Enquanto isso, todos os problemas enfrentados pelos viajantes no aeroporto de Lisboa continuarão e certamente, com o crescimento das viagens e a expansão das companhias aéreas nos próximos anos, a tendência é que o caos de Lisboa continue.